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O papel dos pais: transmitir o gosto pela vida


Estamos na Era da Informação. A era dos saberes científicos. Questões antes relegadas ao limbo, hoje estão em evidência. Desenvolvimento infantil, infância, educação para crianças... Nunca soubemos tanto a respeito desses temas. E isso é fantástico! Hoje estamos muito mais cientes da nossa implicação enquanto adultos na transmissão de diferentes saberes às crianças. Temos muito mais ciência de que influenciamos o desenvolvimento delas, seja pelo lado positivo, quanto negativo. No entanto, o saber científico entrou de sola na casa das famílias. E, infelizmente, acabou criando um abismo na relação entre muitos pais e filhos. A relação ficou mediada por conhecimentos, por um saber artificial, descaracterizando o papel fundamental dos pais dentro das famílias: ser pai e mãe.

O acesso às pesquisas que antes ficavam restritas à academia, hoje se disseminam entre reportagens, blogs e redes sociais. Diante de tantas informações desencontradas, pais ficam confusos, desgastados e destituídos de qualquer saber.

Tem sido cada vez mais comum encontrar pais que, diante de qualquer impasse na criação de seus filhos, correm para grupos do whatsapp e grupos nas redes sociais, desesperados por respostas, sedentos por alguma técnica baseada em evidência que os tire do caos. Pais que a cada dia se sentem mais incapazes de resolver seus dilemas na lida diária com as crianças sem a prescrição de agentes externos.

A confiança dos pais tem ruído, se sentem desvitalizados, perdidos. A promessa de um futuro promissor ao se ter tanto conhecimento à disposição tem, na verdade, minado a subjetividade dos pais, os fazendo crer que sem o saber científico não são nada, que nada a transmitir aos seus filhos. Isso tem adicionado uma artificialidade às relações.

A criatividade de resolver cada situação de acordo com a necessidade daquela família, de cada criança, virou uma produção em série, onde existe uma solução padrão para todos os casos. Os pais já não se contentam em transmitir o simples, o real aos seus filhos. O simples virou demodê.

E quem perde mesmo são as famílias, que já não acreditam mais em seu potencial. Estão tão atravessados pela ciência, que já não enxergam que a maternidade e paternidade são, acima de tudo, uma vivência humana. Sendo assim, passível de erros, de desencontros, de dúvidas, de becos de saída. Ser pai e mãe é essencialmente um encontro humano. É um encontro de histórias.

Portanto:

Se será introdução alimentar será via BLW, participativa ou à moda antiga, o mais importante é não esquecer de transmitir o prazer em saborear uma boa refeição, o prazer em partilhar esse momento com quem amamos! É o momento de interagir, de conhecer diferentes alimentos, uns mais saborosos, outros nem tanto.

Se usará fralda descartável ou de pano, o importante é transmitir a cada troca a satisfação em ficar sequinho, limpinho, cheiroso e pronto para continuar brincando ou tirando uma boa soneca!

Se vai gostar mais de carrinhos, ou de bonecas, ou se vai brincar com os dois, o importante é ter prazer em construir as próprias brincadeiras, os próprios personagens.

Se a comunicação será Não-violenta, se será Escuta Ativa, ou qualquer um desses estilos modernos, o importante mesmo é uma fala verdadeira, genuinamente interessada em escutar e em transmitir algo àquela criança! De nada adianta mil técnicas se é uma fala vazia, desinteressada, que não representa nem os pais nem a criança.

Se o quarto será montessoriano, se será para estimular a criatividade ou a autonomia, o importante mesmo é que a criança sinta como o seu lugar dentro da casa, seu espaço, seu cantinho. Que tenha sua cara, que seja personalizado com seus gostos e suas preferências. Que seja um refúgio e um lugar de paz e tranquilidade para dormir e renovar as energias para o dia seguinte.

Se o brincar virá através de brincadeiras estruturadas, com “potinhos”, experiências sensoriais e motoras, ou se será um brincar livre, o importante mesmo é não perder de vista que o brincar é em si mesmo o objetivo. Não precisa necessariamente ter objetivos a serem alcançados na brincadeira – brincar é por prazer, por diversão! É hora de fazer amizades, criar momentos significativos e lembranças únicas.

Se irá para a escolinha aos 6 meses, ao começar a falar ou depois dos 3 anos, o essencial é ter dentro de si o motivo disso. Se será para a mãe retomar o trabalho que tanto gosta e que tanto contribui para o papel dela em casa, se será pela criança já ter condições de desfrutar do convívio com seus pares, ou se será por ter a possibilidade aproveitar o maior tempo possível em casa. O essencial é dar significado a essa escolha.

Se irá dormir sozinha ou em cama compartilhada, o importante mesmo é transmitir a delícia de desfrutar de uma cama aconchegante e protegida, para então se sentir segura para adormecer.

Se vai mamar no peito ou se vai tomar fórmula, o indispensável é fazer desse momento um encontro íntimo e prazeroso entre mãe e bebê, com troca de olhares, carinhos e muita interação!

Essa é a essência da relação entre pais e filhos. A de transmitir não apenas saberes, mas, sim, de transmitir o gosto pela vida, o prazer de viver! É transmitir histórias, vivências e afetos.

É fazer um bolo, é andar de bicicleta, é contar sobre coisas passadas, é compartilhar sonhos, é pisar na grama descalço, é dar um abraço apertado, é não fazer nada juntos, é discutir de vez em quando, é sentir saudade, é conhecer lugares diferentes, é arrumar a casa, é contar uma novidade, é compartilhar uma tristeza, é se apoiar. Tudo muito simples, mas, ao mesmo tempo tão vital. Tão parte da vida.

Certamente não é voltar para trás e fazer de qualquer jeito, ao estilo “o filho é meu e eu faço o que eu quiser”. Não. Hoje temos informações valiosas sobre a importância de alguns fatores no desenvolvimento infantil. Mas, é não se assujeitar ao saber externo. É ter claro que essa é UMA das fontes quando se fala em criação de filhos, mas não a única.

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